quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Clube Bimbalhony - Parte 1

Eu cá, meus caros, não sou muito prendado na cozinha. Confesso já os meus parcos dotes culinários e considero-me mesmo um dos grandes desastres mundiais nessa área.
O Supremo Divino fez questão até de me tornar um ser desajeitado na questão dos temperos. Diz, quem provou os meus raros cozinhados, que não há diferenças entre lamber película aderente, pedras de basalto ou mastigar um dos meus lindos preparos. Deixem-me partilhar algo convosco: para mim, a cozinha é um espaço onde residem electrodomésticos, que contém uma torneira onde beberico alguns copos de água e onde mora o saco do lixo. Tudo o resto é o vazio. O desconhecido. Uma religião à qual eu não pretendo ser participante, praticante e muito menos devoto.
Como não sei praticar essa arte do amor na cozinha, porque não sei amar os ingredientes, as medidas, porque sou um ignorante na alquimia dos temperos, porque desconheço a beleza do cheiro do alho picado, a ternura das cebolas e reconheço a insensibilidade para adorar os perfumes dos cominhos, mentas e demais ervas, decidi por minha conta e risco ser cliente habitual da comida entregue ao domicílio.
Reparei que posso ter toda a comida do mundo à porta de minha casa. Durante anos fui alimentado por estranhos que percorriam quilómetros de mota para para me levarem comida à boca. Foram quilómetros de pizzas, massas, baguettes, chineses, indianos, japoneses e demais asiáticos. Cozinha internacional, meus amigos. Fiz amigos dos quatro cantos do mundo sem meter um único pé na rua. Discuti com brasileiros sobre a demora da entrega do chinês, partilhei piadas com ucranianos que traziam baguetes e sorri perante portugueses que emanavam perfumes entre a chamuça e gasolina sem chumbo 95 da mota e que não traziam factura.
Mas decidi parar. Não porque tenha chegado aos 120 quilos mas porque um dia, parado num sinal vermelho vejo um tipo das entregas estatelado no chão ao lado da sua mota com as caixas de pizza espalhadas pelo pavimento. Durante alguns segundos, ali ficaram elas, entregues ao destino e à perícia dos condutores que tentavam desviar-se de fatias de ananás com bacon ou de 4 queijos com pepperoni. Em poucos segundos, o tipo das pizzas levantou-se, apanhou as caixas e fez-se à estrada como se nada tivesse acontecido.
Alarmado com a situação, e antes que "pneumático" fosse um dos ingredientes das minhas futuras entregas, decidi abandonar este tipo de alimentação desequilibrada, Nesse mesmo dia comprei uma Bimby. Mas os meus dias de pânico na cozinha ainda mal tinham começado.

3 comentários:

Carla Ferreira de Castro disse...

Vê lá se queres que eu te mande a demonstradora aí a casa a troco de um corta unhas com vibromassajador podal!

Anónimo disse...

Ainda não aderi a este fenómeno. Confesso que me causa alguma estranheza um pequeno electrodoméstico conseguir fazer sopa, cannelonis, um bolo de chocolate, uma limonada e crepes suzette, tudo isto ao mesmo tempo e numa hora. Mas como diria a saudosa Alcina Lameiras, não nego à partida...

Sérgio Mak disse...

Pá ó Kinder podias ter avisado antes de ter oferecido aqueles biscoitos (de canela, de terra?) hoje. Vao ser para aí 100 e tal euros em capa para os dentes e outros 100 em fisioterapia para o maxilar.

Aquele prémio dos jovens cozinheiros de Viena era forjado meu madraço...