segunda-feira, setembro 24, 2007

A escada

Este fim-de-semana decidi por de lado a minha imagem de homem culto, de mente aberta a novas tendências culturais, de observador crítico às últimas novidades literárias e do meio artístico e fui assentar cimento. Esqueçam Hamlet, o Cirque do Soleil, os ciclos de cinema clássico na Cinemateca ou um final de tarde a beber uma caipirinha enquanto passo os meus olhos sobre o Jornal de Letras.
Esqueçam tudo o que vulgarmente acontece na vida de uma pessoa normal e façam uma coisa diferente. Metam mãos à obra. Eu este fim-de-semana decidi fazer uma escada em pedra. Uma tarefa hercúlea que envolvia um carrinho de mão, sacas de cimento de 50 quilos, areia, brita, enchadas e remoção de terras às pazadas. Ah, que retemperador, ah um banho de humildade para a alma, ah um expiação do mundo inócuo em que vivemos. Como é bom trocar axiomas por bolhas nas mãos, pintura impressionista por exames de vespas e moscardos, dores nas costas em vez de uma confortável cadeira junto ao rio enquanto relemos um inebriante Boris Vian.
Uma escada, é uma escada, dizem uns. Tem degraus que servem para subir ou descer conforme o sentido em que nos dirigimos. Nada é mais falso. É libertador, é um caminho, são pequenos passos seguros em direcção a um patamar mais elevado na vida. Para além disso, e depois de receber um orçamento de um pedreiro, decidi fazer a porcaria da escada sozinho. Assim consegui poupar uns trocos valentes para gastar em roupa e cremes para o corpo.

3 comentários:

Carla Ferreira de Castro disse...

Os pedreiros não ganham mal, mas nunca o pedreiro fez uma escada a sós. É para isso que existem as pessoas cuja "job description" consiste em "dar serventia a pedreiro"

Anónimo disse...

As coisas que tu inventas para ficares mais alto...

Sérgio Mak disse...

Até que enfim que o kinder faz alguma coisa que se veja com massa cinzenta...