terça-feira, outubro 14, 2008

Não vi, não ouvi e não falo.

“É só deficientes, pá”; “Onde é que o maluco tirou a carta?”; “Ó ceguinho, não vês que eu tenho prioridade?”; “Não, estás a ouvir-me a apitar? Tira-me essa coisa da estrada, ó surdo!”.
Estas são algumas das manifestações de carinho que habitualmente ouvimos de quem possui habilitação legal para conduzir. Pessoas cordatas, simpáticas e nada deficientes. Então, a pergunta: porque raio a RTP introduziu a linguagem gestual nas informações de trânsito no seu programa da manhã “Bom Dia Portugal”?
Eu sempre julguei que alguém que não fala, não ouve ou não vê está interdito de conduzir. Dizem que na situação de ocorrer um acidente há sempre muitos constrangimentos no momento do preenchimento da Declaração Amigável: o surdo diz que viu mas não ouviu, o cego nada viu mas ouviu e bem, o mudo não diz nada apesar de ter visto e escutado.
Mais tarde a RTP veio explicar o caso: parece que vários organismos do Estado estão a mover uma acção concertada com o objectivo de introduzir a Condução Desportiva como nova modalidade paraolímpica. Se tal acontecesse, e a contar com os deficientes que encontro atrás do volante todos os dias, poderíamos forrar todas as estradas com medalhas de ouro.

2 comentários:

Carla Ferreira de Castro disse...

E eu a achar que para ti era dia sem carros todos os dias e ías de transportes públicos com um bando de delinquentes... Fui bem enganada! Não passas de mais um tecnocrata de havaianas!

Sérgio Mak disse...

Só tenho a dizer que, em termos de civismo rodoviário, este país é claramente deficiente...