segunda-feira, outubro 10, 2005

O Homem do cobertor

Todos os dias, exactamente à mesma hora, tal como um relógio suiço produzido em Londres por um técnico japonês, cruzo-me com um homem. E ali está ele deitadinho no seu cobertor, a um canto, debaixo de um vão de um prédio abandonado, com a cabecinha de fora; olha para quem passa. E passo eu. E quando os nossos olhares se trocam, ali num lampejo de quase dois segundos, o cabrão ri-se de mim. É como se dissesse a cada fecho de pálpebras que "eu não pago renda, eu não vou trabalhar, eu não tenho patrões, ainda são 9 da manhã e eu estou aqui no quentinho na minha cama". Pulha de merda. Espero que sejas alérgico ao polyester dos cobertores.

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