Vem aí mais um mundial. Desta feita na Alemanha. E os portugueses que andam tristonhos com a crise, com a vida e com a tristeza de estarem sempre tristes, levam mais uma vez com a gasolineira que se quer apoderar do orgulho nacional e fazer-nos ver que a longínqua vitória afinal esta bem perto, se todos nós fizermos força e quisermos.
É o orgulho em ser português, levado ao rubro pelo que de mais popularucho nós temos: o gosto e o jeito pelo futebol. À falta de vontade de trabalhar, chuta-se a bola. Pão, vinho e espectáculos de circo, já diziam os Romanos e esses eram malucos, já dizia o Gaulês. Melhor seria cantar: queremos mais, menos ais, menos ais, menos ais, vamos ser competitivos no mercado internacional, vamos ser melhores e não dizer mal, dar cartas em produção, enriquecer até mais não. Sermos mais educados, menos pobres, menos coitados. Queremos mais, queremos mais, mais tecnologia, menos demagogia, mais alegria, menos pobreza, fora com a tristeza.
Mas não: é o futebol.
E até, a que já foi a agência mais criativa cá da terrinha, se vergou à contradição para vender. À contradição de promover o orgulho nacional, com ícones que nada têm a ver connosco. O trem eléctrico com a malta a dançar em cima, a miúda (muito boa por sinal - será também polaca?) em bikini no descapotável, as cheerleaders a dançar em cima do carro tanque (esta é demais, é demais, é demais), a música quase imperceptível tipo rap, uns afro-lusitanos com os carros tuningzados, e para terminar, aquele hábito bem português (talvez dos emigrantes nos states) de mandar papelinhos quando passam os heróis, e as forças da autoridade prontas a marchar contra a populaça para conter os entusiasmos? Isso é em França. Não é aqui.
De português ficam os gordos barrigudos com as pinturas nas banhas e a bandeira nacional que eu nem sequer sabia que se podia usar para fazer publicidade.
Heróis de Berlim, vê-se numa tarja. Heróis queria eu ter no governo. E era a governar, não era a correr na meia maratona.
Talvez eu seja pessimista e ache que o futebol não é a razão mais importante para puxar por uma nação, e talvez eles façam muito bem em cantar de galo. O pior é se o ovo não saí e ficamos todos a cantar: mais ais, mais ais, perdemos mais, perdemos mais. E no dia a seguir voltamos para a desgraça do PIB, do Pac e da Taxa de Desemprego que teima em subir.
Não tenho nada contra o elevar o orgulho em ser português. Eu que sou baixo, elevo-o. Mas defender o orgulho em ser português, usando o que de mau há lá por fora? Tá mal. Não acreditam? Bebam um chopinho e vejam a galera a descer a rua com os batuques.
8 comentários:
Olarila! Tardou a chegar mas falou bem.
Apesar da imagem ser projectada a partir do mundo da bola, a culpa é do fado, do triste fado do bimbo, que antes de ser pão já era português há muito tempo...
Lava a boca antes de falar do pão Bimbo, que por trás desse anúncio que elevou bem alto essa marca, esta um grande account que brilhantemente vendeu essa campanha e que é um grande, grande amigo meu. O melhor mesmo.
Por favor, neste blog não são admitidas redudâncias como no exemplo citado anteriormente com as expressões "Bimbo" e "Account".
Curiosamente, se não estou em erro, de onde veio o pão sinónimo de saloio (para n ofender susceptibilidades), vem também o Carnaval Laranja, mas com as devidas diferenças temporais reconheço...
Mas tais assuntos, fazem-me pensar em trabalho e apesar de estar em horário do mesmo, prefiro concentrar-me em temas lúdicos...
Caro Mak,
O seu comentário é pertinente. A Agência dos dois anúncios é a mesma. As pessoas e a qualidade da Agência em questão é que mudaram.Eu por exemplo já não estou lá e o resultado está à vista.
Acho brilhante o raciocínio que está por detrás desse filme. Diz a locução final o seguinte: "Se a Galp é a número 1 em Portugal, então podemos ser o campeão do mundial". Esse silogismo faz tanto sentido como "Se eu sou amarelo, então há aviões com bancos". Faz todo o sentido, não é?
Começa a inalar gasolina umas qtas vezes e vais ver que mta coisa te vai começar a fazer sentido...
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