O Evangelho de Barrabás

Depois da espantosa descoberta do Evangelho de Judas, numa gruta nas margens do Rio Nilo, foi descoberta há semanas o que se julga ser o Evangelho de Barrabás. Este exemplar único foi encontrado junto a Belém após um rebentamento suicida que deixou a céu aberto uma enorme cratera - para aí com uns 210 metros de profundidade, ou um bocadinho menos segundo alguns especialistas. Pois nesse buraco foi encontrado um manuscrito em papiro que, apesar de se encontrar em más condições, revela dados impressionantes e mesmo fantásticos.
Os investigadores ficaram entusiasmados logo com a primeira descoberta. O documento continha uma imagem que se assemelhava a uma Nossa Senhora com uma tosta mista nas mãos. Mas depressa se percebeu que não era nada disso, que ela segurava uma baguette com carne assada. Mas o melhor ficou reservado para mais tarde. Por volta das 3 da manhã, após uma exaustiva investigação, com recurso às mais recentes tecnologias, chegou-se à conclusão de que se trata, com toda a certeza, de um pequeno diário que relata alguns dias do mais importante prisioneiro bíblico. Para melhor conhecermos a sua história transcrevemos algumas das passagens decifradas até agora e que incluem revelações importantes sobre Jesus.


10 de Fevereiro
Hoje estou com a neura. Só para desanuviar vou partir a fronha a dois romanos e já venho.

1 de Março
Apesar de não ter sido formalmente convidado, fui à festa de Escariotes, filho de Ânsulo, o Ancião. Apanhei uma de caixão à cova e só me lembro de ter apalpado uma mama da mulher do anfitrião e de ter percebido que ela gostava.

3 de Março
Estou farto desta cidade. Pedir esmola nas ruas está cada vez mais difícil. Anda para aí um barbudo a curar a malta toda, daí que a cena do leproso não anda a pegar. Vou ter que fazer umas casas de uns fariseus.

12 de Abril
Consegui arranjar uns papiros para continuar a escrever. Estou na pildra depois de ter sido apanhado a assaltar a casa de Bira, o Egípcio. Mas desconfio que apanhei perpétua por ter feito as duas filhas dele. Apanharam-me com as calças na mão e desprevenido. De qualquer forma deu para mostrar a minha sarda a esses romanos para eles perceberem porque é que me chamam Barrabás, o Dá Voltas e Arruma Atrás.

15 de Abril
A Páscoa aproxima-se e pelos vistos pela primeira vez não a vou passar sozinho. Estou a partilhar a minha cela com um barbudo que se diz chamar Jesus. Só fala em "amor para aqui", "amor para ali", amar o próximo, dar a outra bochecha e mais cenas totalmente esquisitas. Acho que vou partir-lhe a fronha e "fazer amor" com ele.

16 de Abril
Meu Deus, eu estava mergulhado na escuridão e agora vejo. Vivia num buraco impenetrável, sem esperança e agora vejo a luz. Eu estava morto e renasci num novo homem. Sinto-me inebriado por esta luz forte que me aperta o coração. Sinto-me livre e isso explica-se pelo facto de me encontrar fora daquele buraco de merda. Depois de ver a minha vida por um fio, trocaram-na pelo barbudo chato como a putassa que se encontrava na cela, o tal Jesus. Ainda estou para saber como é que não o fiz.

18 de Abril, Páscoa.
Hoje fui assistir à crucificação de alguns judeus para galar as viúvas. Toda a gente sabe que isto de gajas é mais concorrido que a estalagem do Judiafaz às sextas-feiras. Viúvas endinheiradas é o que está a dar e estas oportunidades são únicas. Curiosamente vi lá aquele tipo, o Jesus, pregado na cruz sem ganir, nem nada. Duas mulheres choravam copiosamente bem junto a seus pés. Aproximei-me, aproveitei o momento e apalpei a mama a uma delas. O cabrão ainda disse: “Perdoai-lhes senhor que não sabem o que fazem”. E eu olhei para o lado, depois virei-me para o gajo e perguntei-lhe: “Ouve lá, ó palhaço, estás a ver mais alguém aqui? Vem cá a baixo a ver se és homem.” Uma das mulheres ainda gritou: "Ele é mais do que homem, ele é filho de Deus!". O tipo calou-se e quinou. É o que dá não ter as vacinas do tétano em dia: a ferrugem dos pregos é capaz de matar uma pessoa. É uma doença que não escolhe ninguém, sejam eles filhos de Deus, de famílias pobres ou abastadas. Vai tudo a eito.
Estava imbuído nestes pensamentos quando fui interrompido por um choro compulsivo das duas mulheres. Choravam como Madalenas e nem se deram conta que eu continuava a apalpar-lhes as mamas.