segunda-feira, janeiro 30, 2006

Iniciativa privada- uma pequena história


O Zé Squemas, era um tuga daqueles que vive de expedientes, que como bem sabemos, significa que não trabalha, tenta enganar tudo e todos e vai vivendo uma vidinha tão boa ou melhor que a nossa. O Zé Squemas vivia em união de facto com a Cármen Tira. Não tinha amigos, porque já os tinha enganado a todos, mas tinha muitos conhecidos e ainda mais gajos que lhe queriam “mal”, ou melhor, que lhe queriam partir a boca toda. O seu único amigo conhecido era o Asdrúbal Drabão, que por vezes com ele participava em certos "malabarismos financeiros". A sua principal “área de negócio” era o import/export.
Um primo do seu amigo Asdrúbal Drabão, que vivia na França, um tal de Jaques Acana enviava regularmente da França (França, em Portugal, ali para ao pé de Rio d’Onor) umas garrafinhas de vinho Bordél (produzidas pelo Zeca Brão) como se fossem da região demarcada de Bordéus. A verdade é que o vinho até era bonzito e que só morreram para aí 10 pessoas. Agora, vender a 25 euros a garrafa e ainda por cima no rótulo rezava “ Le meileure Vin, François de la vray región de Bordeux” com algumas incorrecções na língua de Jean Paul, isso amigos, é que não pode ser. A justiça tarda mas não falha, o que será verdade nuns casos, mas não no de Portugal como se verá. Zé Squemas mexeu numa coisa inamovível. Mexeu no vinho, no sangue do senhor. E ao ser descoberto por um reputado enólogo, de sua graça, Azé Vinho, que deixou o seu palato enganar-se e que ao se aperceber do erro, lixado, vexado e incomodado, resolveu perseguir o vigarista, pois a sua reputação manchada merecia ser vingada. Dito e feito. Descoberto o embuste, foi movido um processo. Queixoso o enólogo, arguido o Zé Squemas. O processo entrou rapidamente em julgado, mas logo estagnou, parado e encostado, primeiro por motivos de saúde do Zé Squemas – uma súbita doença inexplicável -, e depois de uma sua testemunha – acometida de um mal, ainda mais estranho - mais tarde para uma tentativa de acordo – sem sucesso - e para sabe-se lá que mais, até que as linhas que cosiam as folhas ficaram velhas e gastas e o processo que ía já com actas e desatas várias ficou sem que houvesse solução. Arquivado, perdido e sem andamento, foi por assim dizer perdoado Zé Squemas, e mais tarde amnistiado, porque o presidente que se encontrava à morte recuperou por milagre e, em jeito de agradecimento, amnistiou os malvados, os bandidos, os malandros e afins. O enólogo não mais trabalhou, pois se o seu paladar não distinguia a zurrapa do genuíno, para nada servia.
O Zé, animado, continuou o seu negócio e abriu até uma sucursal de uma novo ramo: a venda de pedras aos turistas da torre de Belém. Montou banca nos jardins de Belém onde Cármen Tira, com as coxas viçosas, atraia a clientela. O Zé Squemas tratava da burocracia. Asdrúbal Drabão fornecia as pedras que eram retiradas das calçadas portuguesas, que se por si só se degradam, com esta ajuda extra estavam por assim dizer, tipo queijo suíço. As pedras eram vendidadas com um certificado de proveniência, que atestava a origem das mesmas: do chão da torre pisada por intrépidos navegadores, às ameias onde Vasco da Gama apoiou a mão. Sendo a pedra mais cara, a mais desejada, mas nunca vendida, a pedra preta que rezava assim no papel que lhe estava anexado, “Esta pedra foi retirada da Torre de Bélem, monumento nacional da república Portuguesa. Nesta pedra acredita-se que o próprio rei Dom Manuel, ao inspeccionar as obras acometido por um daqueles desejos que unem o povo aos nobres, ao agachar-se, terá defecado em cima desta mesma pedra, que apresenta assim um tom preto, diferente do tom branco calcário da restante pedraria da torre. Estas pedras são retiradas sem provocar danos na torre, uma vez que as verbas resultantes da sua venda são utilizadas para a reconstrução e reposição de novas pedrarias. A Torre de Bélem, está graças à sua ajuda a ser regenerada. Só aqui as únicas pedras autorizadas”
Um dia um estrangeiro preocupado com o facto de aos poucos se demolir a Torre de Belém perguntou, "Mas old chap, assim a Torre em pouco tempo será só pedras novas e sem história?", ao que Zé Squemas, tão lesto na língua como no pensamento, terá dito: "Desengane-se amigo. Quantos séculos mais poderiam durar aquelas pedras velhas. Agora, com as novas que utilizamos, a Torre está pronta para mais 500 anos". O turista foi-se embora satisfeito e escreveu até um artigo onde elogiosamente frisava que neste país, graças à iniciativa privada de a uma empresa de cariz familiar, se conservava o património público.
Apareceu um dia um daqueles turistas obesos daquele país de saloios do além mar, que manifestou interesse em comprar a torre por atacado para poder reconstrui-la - em memória de seu pai que tinha nascido em Espanha - na sua propriedade no Arizona. Zé Squemas, subcontratou drogados e vários sem-abrigo e em menos de 3 dias vendeu-lhe as pedras todas devidamente numeradas e com um mapa para reconstrução. As pedras, essas, foram retiradas dos passeios da Baixa.
Zé Squemas ficou rico. Dedica-se agora ao melhor negócio que há para um vigarista e o Futebol Clube da Viga Rice, não almeja ainda a 1ª divisão, mas guiado pelo seu presidente- Zé Squemas - para lá caminha a chutos largos.
Bem haja a iniciativa privada.

1 comentário:

Sérgio Mak disse...

Eu comprava essa ideia