- Boa noite, meu senhor. Quer acompanhar-nos até ao abrigo?
- Na’ quero obrigado, tou’ bem aqui.
- Mas venha lá, por favor, aqui vai morrer de frio.
- Naaa’, tou’ bem.
- Mas esse cobertor não é suficiente. Estão zero graus e ainda vai piorar durante a noite.
- Naaaa’, deixe tar’, fico por aqui.
- Mas não está a perceber, vai congelar aqui! Vá, venha lá.
- Pois..mas deixe tar’, tou’ bem.
- Olhe, no abrigo terá aquecimento e comida. Venha connosco.
- Uhmm...pois...mas prefiro tar’ aqui.
- Já pensou numa sopinha quentinha? E num tecto para passar a noite?
- É verdade, mas fico na rua.
- E já pensou que centenas de voluntários se disponibilizaram numa noite como esta para ajudarem os sem-abrigo? Colabore, não lhe custa nada. Não precisa ter medo, nós somos voluntários e connosco estará em segurança.
- Pois sim, mas na' vou. Fico aqui, brigada’.
- E estarão lá mais sem-abrigo, terá companhia!
- Colegas meus? Nem pensar...fico aqui. Deixe-me tar’.
- Então recusa a nossa ajuda, é isso?
- É isso meu senhor, fico por aqui. Na' s'incomodem.
- Ok, passar bem e vá para o inferno! Você e todos como você!
- Sim meu senhor, brigado’, para si também.
4 comentários:
Acho que deveria ter terminado de outra forma: o sem-abrigo lá se deslocava até ao abrigo e descobria que afinal estas acções sociais de apoio são uma verdadeira mina capitalista. Só em subsídios, comissões e doacções ganha-se um dinheirão. Assim, o nosso sem-abrigo tornava-se um empresário e levaria a sua iniciativa privada até outros centros urbanos do país expandindo o negócio de tal forma que podia talvez criar um império, entar em Bolsa, enveredar pela globalização, vender a uma empresa maior ou "franshisar". Depois é procurar entrar na lista dos 500 mais ricos da revista Forbes e deixar o Belmiro para trás. Nome da empresa: "Deixa 'tar!"
Melhor ainda, o Metro abre as estações aos sem abrigo, mas depois multa-os por não terem bilhetes. Como o termo sem abrigo é também quase sempre sinónimo de sem dinheiro, o Metro obriga-os a pagar a multa em trabalho, no sistema de teste de travagem de carruagem ou simulações reais de acidentes na pista...
Há só na zona de Lisboa cerca de 700 camas distribuídas por vários albergues para os sem abrigo. A taxa de ocupação, com frio ou sem frio, anda entre os 5 a 15%. Há, a bem dizer, mais voluntários que sem abrigo nos albergues.
É infame deixar esta gente que tanto quer ajudar, sem conseguir ajudar ninguém. Proponho que se crie um grupo de voluntários que voluntariosamente, seria uma vez por semana um sem barigo. Iríamos todos, tipo às quartas depois de um pézinho de dança no Lux, jantar à sopa dos pobres e dormir ali no albergue da Almirante Reis e confratenizar com os voluntários predstadores de cuidados, justificando assim o seu gesto nobre e altruísta.
Dress code: a mesma roupa fashion que usamos no lux, tipo fato treino, o cheiro a tabaco, bebida e suor que trouxemos do Luz também é recomendável.
Eu acho que deveria criar-se um grupo de voluntários de apoio aos voluntários que apoiam os sem abrigo. É lamentável ver esta gente nas ruas, à noite; são pessoas que prescidem do conforto do lar para poder ajudar pessoas que não querem ser auxiliadas.
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