quarta-feira, setembro 14, 2005

Carta para ti, amor

Amor da minha vida,
Como eu sei que aí não tens acesso ao e-mail e que por vezes ficas sem rede no telemóvel, decidi escrever esta carta. A minha vida, vai indo. Não há grandes novidades. O emprego continua igual, continua chato e os meus pais uns chatos. Por vezes pergunto-me se, quando formos velhinhos, os nossos filhos não vão dizer o mesmo de nós. Eles têm perguntado muito por ti. Os meus pais e os nossos filhos. Eu também tenho muitas saudades tuas e dos teus pés quentinhos à noite.
O nosso mais velho anda um reguila de primeira apanha. E não pára. Fui com ele ao médico e o doutor diz que ele precisa de umas vitaminas. E que preciso de o obrigar a comer mais legumes. Mas sabes que eu não consigo gritar com ele, tu és melhor nisso do que eu.
Eles a mim já perderam o respeito. Ainda no outro dia o mais velho levou-nos o serviço de casamento e suspeito que anda a tirar uns euros todos os dias da minha bolsa, às escondidas. Já ralhei com ele. Mas ele não me ouve. Ainda no outro dia a nossa vizinha do segundo esquerdo foi dar com ele à sua porta com um pé-de-cabra na mão. Continua com essa mania, vê lá bem. Não há maneira de o convencer a usar as chaves.
Depois anda a esquecer-se da nossa morada e só aparece de vez em quando. Só não falei com o médico sobre isso porque acho estranho que uma criança de 10 anos sofra de amnésia.
Ao nosso mais novo estão a nascer os primeiros dentinhos. Está tão querido. Agora mete tudo na boca e não me deixa dormir. Coitadinho. Mas está tão fofo. Já diz “cabra” e está quase a dizer também o teu nome.
Bom, adeus amor. Não sei quando é que tens a tua primeira precária mas eu espero por ti. Amo-te muito. Isabel.

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