No outro dia fui assaltado por uma dúvida. Pediu-me 2 euros, levou-me a carteira e antes de se fazer à estrada deixou uma pergunta no ar: “Já pensaste como é que os americanos nomeiam os furacões?”. Além de liso, fiquei perplexo: eram já 11 da noite e não tinha o passe.
Porque tempo era coisa que tinha, vim pé ante pé descendo a comprida e poluída Avenida da Liberdade, cogitando sobre a questão levantada.
Algumas horas depois chego a casa e meti mãos à obra. Larguei o carrinho de mão, a sachola e a roçadora mecânica e agarrei-me aos dados. Cansado da monotonia de eles só apresentarem uns pontinhos negros de 1 a 6, de rolarem e de eu já não ter idade para isso, decidi desistir dos dados e enveredar pelo caminho apresentado pelos meios de comunicação.
Após um complexo e moroso estudo de vários minutos, vim a descobrir que os meterologistas americanos, desde os anos 40 - para poderem falar do fenónemo sem confusões linguísticas - decidiram atribuir nomes aos furacões até ao ano 2010. Parece que os primeiros furacões eram sempre fêmeas e correspondiam aos nomes das namoradas, mulheres, amantes e todas as tipas que eles não conseguiam comer. Mas depois o movimento feminista e gay pediu nomes de homens e decidiu-se distribuir o mal pelas aldeias: metado macho, metade fêmea. Assim sendo, depois do Katrina veio o Rita e há a certeza de que o próximo da lista vai nascer gajo: é o Stan.
Apesar das semelhanças com o Bangladesh, os EUA são insuperáveis em determinados aspectos. E são pioneiros nessa nobre e altiva arte de nomear furacões.
Eu acho uma ideia brilhante. Na verdade, eu sou a favor da introdução do mesmo método em Portugal. “Mas nós não temos furacões!”, dizem vocês. Obviamente. Quer dizer. Existia a hipótese de importar furacões mas aquilo é taxado ao quilómetro e seria uma despesa incomportável para o erário público. “Então?” perguntam vocês. Bom, temos que nos agarrar ao que conseguimos deitar a mão. E se os americanos dão nomes aos furacões nós podíamos dar nomes às secas.
Por isso sugiro que o primeiro nome de 2005 seja Tozé. A Seca Tozé. Ligaríamos a televisão e as notícias diriam: “E não são apenas as medidas do Governo. A Seca Tozé continua implacável, deixando barragens, furos e o país à beira de um colapso”. Entrevistando idosos poderíamos ouvir: “Já não tenho auga para dar ao gado. Ò amigo, estou aqui há 78 anos e nunca vi nada assim. É o Tozé que está a dar cabo de tudo. Raios partam...”.
Mas existem mais sugestões: Seca Ginginha, Seca Coentros, Seca Hoje há Pipis, Seca Lobo Antunes Nunca mais Ganhas um Nobel, Seca Eu Hoje Sonhei Com Um Arenque E Estava Um Dia Bonito, Seca Comia-te Toda, e por aí vai (esta última não é uma sugestão; é uma maneira diferente de dizer etc).
Há um grupo de cientistas, de alguns curiosos e dois mirones que pretende aplicar o mesmo conceito a cheias, tempestades de granizo e geadas. Sugerem eles os nomes: Tempestade de Granizo Calisto, a Cheia Ermilinda ou a Geada Islâmica. Eu acho boa ideia.
1 comentário:
Actualização feita pelo autor.
Pelos vistos Portugal esteve quase a ser desfeito por um furacão que se transformou numa tempestade tropical. O Vince passou perto. Os metereologistas temem que estes fenómenos tornem-se mais comuns. É caso para dizer que os americanos não nos deixam ter coisas sozinhos. Lixam o meio ambiente, provocam os furacões e depois embalam-nos para cá.
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