terça-feira, setembro 06, 2005

R.I.P.

Eu sei que este Blog é "É a vida", mas esta termina invariavelmente na morte, por isso...


Contava-me um colega meu que no cemitério da Amadora há várias lápides sobre os falecidos em que familiares revoltados acusam o facto daquele seu ente ali estar, pela negligência dos médicos do hospital Amadora/Sintra.
Achei a ideia interessante. Não de morrer nas mãos dos médicos do Amadora/Sintra. Mas sim a de utilizar aquele veículo de comunicação com os consumidores. As lápides são na efectivamente a derradeira forma de comunicação. Assim deveria ser sempre obrigatória na lápide uma disertação sobre o falecido onde deveria constar por exemplo, a causa da morte, alguns factos sobre essa pessoa e também algumas das suas ambições. Assim, em vez de “Albertino Manuel, 1930- 2005. Para o nosso amado pai e Marido que descanse em paz”, que não nos diz muito sobre o falecido, poderíamos ter coisas tão distintas como:
“Manuel Batista, morto de overdose em 2004. Amigo de si próprio e da droga não deixa saudades nenhumas e por favor se lerem isto deixem aqui algum dinheiro para ajudar a pagar as dívidas aos dealers que ele deixou.”
“Maria do Mar Teixeira de Andrade Ribeiro da Cunha (Kiki), falecida em 2005. Não se sabe quando nasceu porque sempre escondeu a data. Era uma tia inútil mas que dava glamour aos eventos sociais. Estamos muito aborrecidos com a sua morte, até porque no dia em que morreu ia haver uma festa que foi cancelada. No seu funeral, a Titá ia deslumbrante num vestido Armani e Quico fazia-se acompanhar da sua nova namorada. A Kiki não ia gostar nada desta nova namorada porque ela é super pindérica. Um beijo e que no além continue a fazer o que sempre fez: nada”
“ José da Fonseca Oliveira, 1959-2005. Deixa saudades aos seu amigos e a certeza de que vamos gastar mais dinheiro nas borgas porque era sempre ele que pagava os copos. Talvez por isso tenha morrido de cirrose.”
“Albertina Lopes, 1901-2004, não temos muito a dizer porque quem a conheceu já morreu e nós já a apanhamos com elevado grau de arteriosclerose múltipla e já não dizia coisa com coisa. No seu tempo deve ter sido muito fixe. Os bisnetos.”
“Este gajo era muito porreiro: escrevemos isto em conjunto porque somos todos amigos dele. Da escola, ao clube passando pelo trabalho todos gostávamos muito dele. Era sempre o primeiro a dar-nos uma palavra amiga, era o primeiro a emprestar-nos dinheiro se era preciso e às vezes até nos trazia uma prendas. Infelizmente não temos bem a certeza da data de nascimento, porque ninguém o conhecia à tanto tempo, nem a data da morte porque ele ficou morto no seu T1 durante algum tempo e ninguém notou a falta dele. Mas agora vamos notar imenso. Um abraço dos amigos ao…Coiso. Não nos lembramos bem do nome.”
“Sónia, 1965-2003. Era uma vaca. Só não se deitou com o coveiro para conseguir uma sepultura melhor porque já estava morta.”
“Augusto Hipólito, falecido a 2004, após ter sobrevivido a um atropelamento em 1970, a uma tentativa de assassinato em 1978, a um enxerto de porrada em 1980, a várias facadas em 1986, envenenamento em 1991, tentativa de enforcamento em 1998, etc. Não deixa saudades nenhumas mas deixa dívidas ao fisco, aos amigos aos credores.”
“Dr. Pinto Basto, 1951-2005, doutorado pela Católica em estudos económicos, tirou o MBA em Oxford em tendências sobre a Macro economia na globalização. Foi Chairman de várias empresas que consegui recuperar de situações económicas precárias. Um empresário capaz com alta capacidade de trabalho. As empresas onde trabalhava despedem-se com respeito e esperam na falir com a sua ausência. Família não deixa porque não tinha tempo para isso e amigos também não.”
Na minha gostaria de ter
" ....-..., Reinu. Amado pelos amigos, temido pelos inimigos. Vai e faz falta a uns e nenhuma a outros. Dos amigos um abraço e até um dia. Dos inimigos já devia ter ido."

1 comentário:

Kinder disse...

Vai de retro. Ide-vos. Ide.