Tenho um amigo – o único, bem na verdade é mais um conhecido meu – que este fim-de-semana foi à festa do Avante. Diz ele que aquilo é que é, que aquilo é uma alegria, que todos os benfiquistas como ele deviam ir lá e fazer daquilo a festa oficial para o arraqnue da Liga, que aquilo é tanto convívio que mais parece dia de jogo na catedral da luz. A cor do certame ajuda, as bandeiras também mas nada melhor que um corato queimado numa frigideira de décima quinta fritura do mesmo óleo e uma jola morta para fazer reviver o cheiro das latrinas do estádio da Luz em fim-de-época.
Mas se o cheiro era familiar, ficou desiludido com a juventude que por lá andava. Por instantes julgou estar na Universidade de Verão do PSD ou nos Estados Gerais do PS, e jura a pés juntos que viu por lá o Manuel Monteiro a tentar convencer dois cães a tomarem de assalto o CDS/PP. O que o meu amigo viu foi uma juventude perdida, uma juventude que anda de telemóvel 3G, que gasta dinheiro em toques polifónicos da Beyoncé, em cocaína em vez de marijuana, e mesmo aqueles iconográficos cachecóis à Arafat permanecem nos pescoços dos jovens que compram calças e tops da Guess e da Diesel.
E não é preciso olhar para o Jerónimo de Sousa a discursar com baba ressequida nos cantos da boca para percebermos que se a geração velha já não dá, os mais jovens também não vão lá.
Tal como tudo na vida, o melhor está no meio. Hoje em dia têm todos 30 e poucos anos e têm a inteligência de estarem quedos, não querem arranjar confusão e muito menos darem nas vistas. São aqueles que têm a inteligência de não quererem fazer nada a sério pelo país a não ser viver o melhor que podem, não querem ser politíticos porque não gostam de meter as mãos na merda nem cagar um pé. Já se viu que isso é uma especialidade dos mais velhos e que os mais novos vão repetir porque andam sempre duas gerações à frente. São os mesmos que cresceram a ver o Conan, o Verão Azul, a Fama e a Galáctica e tinham que pedir autorização dos pais só para irem a Espanha com os amigos, são os mesmo que fizeram um inter-rail e ofendiam tudo o que era revisor na língua de Camões mas sempre com a típica simpatia lusitana na face, são os mesmos que ganharam um calo no ouvido ao terem que aturar o “I just call to say i love you” do ceguinho e do “Final Countdown” nas tabelas dos tops durante semanas sem fim até lhes servir de lição. São os mesmos que não esquecem e voltam a ouvir as músicas da altura porque nem a dos velhos nem a dos novos lhes enchem as medidas.
E ficamos assim, pacatos e sem mexer muito, estúpidos e imbecis como os novos e a dizer mal de tudo como os velhos.
1 comentário:
É pá Kinder tocaste na ferida! Eu que fui a Espanha, com autorização dos pais, eu que vi essas séries todas que citas e que ouvi as músicas também, eu que fiz o inter-rail (duas vezes) eu que fui para Marrocos de carro, eu que fui à Feira da Ladra (mas só depois dos 20 anos), eu... Eu Nunca fui à festa do avante e até hoje continuo com medo de me aproximar da margem sul, no fim de semana desses eventos. Obrigada por me esvlareceres e me fazeres ver que continuo a ter razão. Foi um post de interesse público!
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