segunda-feira, setembro 11, 2006

Nomes assim, não dava.

Há (ou havia) nomes infelizes e que geraram, também eles, confusões infelizes. Foi talvez por isso, que estes nomes foram paulatinamente substituídos por outros, que não dão azo a confusões. Como Kátia, ou Jéssica, e por ai fora. Eu explico. Calma.
A minha avó, coitadinha que Deus a tenha, sempre foi uma sacrificada. Não que vivesse mal, até porque era proprietária de inúmeros bens imóveis, que não, graças a Deus, mas a ela, me deixou, bendita seja. A grande desgraça da senhora era, por culpa de sua falecida mãe, paz à sua alma, um nome que sempre lhe causou transtornos. Principalmente na velhice, onde a arteriosclerose, vence o bom senso e a razão: é a gordura, contra os neurónios, e a primeira prevalece. Adiante.
De sua graça, minha avó era Perpétua. Coisa que se veio a revelar, no mínimo inexacta, pois como já referi, faleceu.
Perpétua juntava-se com amigas octogenárias para jogar bridge.
Assisti a uma dessa partidas, querendo conviver com a minha avó e ao mesmo tempo, compreender os mistérios do Bridge.
Foi, mais ou menos, assim:
- Quem é a jogar?
- A Perpétua.
- Então isso vai levar uma eternidade.
Risos.
- Olha lá, sabias da Céu?
- Como assim? Está azul?
- Não. Estava com Piedade.
-Quem?
- A Céu.
- Foi para lá? Deus tende Piedade. Paz à Sua Alma.
- Conhece?
- Quem?
- A Alma. Era vizinha da Celeste.
- Dizem que sim, dizem que sim. Que é lá que ela vai parar.
- Quem?
- A Alma.
- Onde?
- Ao Céu.
- Sim era da Céu que falava.
-Perpetua, és tu?
- Eu? Eu não acredito nisso da Eternidade.
- Não estou a falar consigo, Aparecida. Falo com a Perpétua.
- Onde está?
- Quem?
- Quem é que apareceu?
- A Aparecida.
- Já sei, já sei que apareceu. Mas quem?
- A Purificação, apre, que confusão.
- Agora?
- Agora o quê?
- Quer se ir purificar agora?
- Bom, deixemo-nos de conversas se não isto não acaba. Este jogo perpetua-se?
- Chamaram?
- Já disse que acho esta mesa baixa? Falta-lhe amparo.
- Sou eu a jogar?
- Não Amparo, é a Perpétua.
- Então está para durar. Vou ver a Anunciação.
- Mas já está no intervalo? Se der aquele da Hora Coca-cola, chama-me.
- Isto não avança, logo hoje que eu acho que vou ganhar. Vou ter uma grande vitória!
- A Vitória também já se perdeu faz tempo.
- Pois. Espera pela vitória, sentada. A esperança é sempre a última a morrer.
- Isso é mentira. A Esperança finou-se na passada Sexta.
- Mas viveu uma vida de Felicidade.
- Chamaram?
Agora tudo é mais Simples. Os apelidos, principalmente os dos cristãos novos, não permitem confusões. A mm só me telefonam umas 10 vezes por dia a perguntar se eu também pinto casas Não percebo bem porquê. Será por me chamar XXXX (achavam que ia dizer?) Pinto Ramos de Oliveira?

2 comentários:

Carla Ferreira de Castro disse...

Antes Ramos de Oliveira do que Pinto Leitão, ou Pinto Lobo, ou mesmo Pinto Santos, pois aí é que o Clero não te largava.

Kinder disse...

Eu tive uma namorada que se chamava Purificação. Era uma santa mulher mas por vezes parecia que tinha o Diabo no corpo. Moral da história: não julgues as pessoas pelo seu nome, julga-as pelo seu corpo.