terça-feira, setembro 19, 2006

Um post político

Este fim-de-semana discuti política com uns amigos meus. Eu sei, podia ter discutido sobre pastelaria regional, sobre contrução civil ou alfaias agrícolas. Mas o assunto descambou na política, no governo, na oposição e em Sócrates.
Preparem-se porque isto promete ser maçudo. Até o Marcelo teve cagufa e foi ver a Floribela só para não ter que recomendar este post na sua missa de Domingo. Depois não digam que não avisei.

O que lhes disse, na altura da discussão, é que eu exigo mais deste Governo. Por mim e pela maioria de portugueses que votaram nele, porque há expectativas que foram criadas e que não foram nem por sombras solucionadas. Aliás, para um governo que tem uma maioria confortável na Assembleia da República estes tipos são moles e demasiado escorregadios. Mais: não suporto gajos que metem com todos os dentes e cujos ataques de incoerência passem despercebidos a tanta gente. Não estou a fazer a apologia da oposição porque esses tipos não merecem qualquer comentário e serão totalmente desprezados.
Dizem os meus amigos que “isto agora é que é" e que Sócrates tem “coragem de enfrentar lobis”. Bom, vamos a eles então:

Saúde.
Andou a dizer mal dos hospitais-empresa. O modelo continua o mesmo mas chama-se agora “Entidade Público-Privada”.Mudou só o nome para mudar os directores que lá estavam. Eram do PSD, agora são do PS.
Gritou contra taxas moderadoras. Hoje cria novas em serviços que eram gratuitos, para bem do equilíbrio financeiro.
Fechou maternidades e centros de saúde pelo país fora. Achava que era tudo muito dispendioso. A meu ver bem, se há condições nas proximidades.

Plano Tecnológico
Apresentou com pompa e circuntância uma série de medidas inovadoras e tecnologicamente avançadas. Mas tão avançadas que não são para o nosso tempo. São um conjunto de indicações que já vem da chamada “Estratégia de Lisboa de 2002”, uma medida que a UE do tempo do Durão Barroso.
Nelas incluia-se banda larga em todo o país. Em Agosto de 2006, Sócrates desloca-se até à derradeira escola do país para instalar banda larga. Palminhas. Disse que o país todo estava coberto por banda larga. Mas o que ele queria realmente dizer é que 100% das cidades portguesas estão cobertas. O espaço rural está 80% off-line.
Boa medida é o Cartão Único do Cidadão e o Documento Único Automóvel. Apesar deste último não ser recomendado nem pelos serviços que o emitem porque dá muito trabalho – Aconteceu a um amigo meu!
Mas no plano tecnologico também surgiu a brilhante ideia de criar uma caixa postal virtual para cada um dos portugueses. Das 10 milhões de caixas disponíveis, só 22 mil portugueses aderiram. Para quem não sabe, esta caixa virtual é totalmente grátis, permite receber as famosas contas da luz, etc, permite arquivar tudo e é uma grande ideia. Mas eles esqueceram-se de dizer aos portugueses que multas, coimas e avisos do Estado também lá vão parar. Agora já não parece uma boa ideia, pois não?
Mas nem tudo é mau: o passaporte electrónico é uma boa ideia.

Impostos
Esta é pequenina e não dói a ninguém. Sócdates aumentou o Iva de 19 para 21% depois de ter dito que não ía aumentar impostos. Aumentou o IRS ao mudar os escalões. Aumentou o Imposto Automóvel camuflando-o com um novo cálculo de emissões poluentes tornando os automóveis mais baratos caros, e de baixa cilindrada, ainda mais caros. Aumentou o Imposto sobre os Combustíveis. Com o aumento constante do petróleo, o Estado arrecada milhões de euros em impostos assobiando para o lado enquanto o petróleo baixa mas gritando que nem um louco porque é preciso subir os combustíveis. Este mês, o petróleo já baixou 19% e os combustíveis uns meros 8%.

Medicamentos fora das farmácias.
A medida não resultou bem. Os preços são idênticos, e em vez de os colocar numa prateleira do supermercado para ser mais fácil de aceder, o Governo decidiu colocar mais um balcão e mais um farmacêutico à frente. Ou seja, o poderoso lobi farmacêutico saiu das farmácias e entrou nos supermercados. Um lobie foi atacado ou deram-lhe ainda mais espaço e força?

Incêndios
Dá vontade de rir. Durante anos criticaram o comportamento dos Governos anteriores. Tiveram 18 meses a brincar com o fogo. Fizeram o quê, então?

Tabaco
A famosa lei do tabaco com impedimentos e proibições em tudo o lado, lutando contra o poderoso lobie da restauração, ficou em águas de bacalhau. Afinal fica tudo como está. Muda-se só o preço do tabaco porque é um luxo e assim incentiva-se o "não consumo".

Crédito Habitação Bonificado
Sócrates gritou contra a medida que Manuela Ferreira Leite impôs ao terminar com este benefício. Jurou aos portugueses que o iria repor. Estamos à espera. O mesmo aplica-se à Lei do Trabalho. Andou para aí a gritar contra uma série de medidas e artigos prometendo que os alterar. Não alterou. Não percebo porquê, têm maioria na Assembleia da República. A não ser que afinal esses mesmo artigos já sejam convenientes às suas políticas económicas de "esquerda".

Simplex.
Uma das melhores. Foram 333 medidas apresentadas com grande festa e num espaço que custou os olhos da cara. Dessas, foram contabilizadas 80 para implementação até Junho de 2006, 70% delas não o foram e estão completamente atrasadas. Deve ser da papelada necessária.
Mas o melhort ainda está para vir. Como o Simplex não funcionou criou-se um Observatório do Simplex. No seu primeiro balanço, o Observatório seleccionou 25 medidas como prioritárias que lhe merecerem uma especial atenção, tendo em atenção o impacto nas empresas e nos cidadãos. Destas 25 medidas, 3 foram executadas dentro do prazo. Mas esperem que isto ainda tem mais piada. É que pela positiva, este Observatório realça o arranque por antecipação de 3 medidas previstas para o 2º semestre. Estamos ainda a falar das 25 medidas e nas das 333. Simplex de entender, não é?
Eu acho que o Governo podia ir mais longe e prometer mecanismos sem papéis. Podia não cumprir mas pelo menos ficava dito e por isso era aplaudido.


Justiça
Gritaram contra as férias judiciais e depois perceberam que tinham metido as mãos pelos pés. Sócrates recuou porque percebeu que os juízes concordavam em mudar as férias judiciais: queriam ter direito a 25 dias úteis de férias e escolher os dias como o comum dos cidadãos. Mas a isso ele já não achou piada. Depois calaram-se todos. Governo e magistrados. Sabem porquê? Porque os juízes agora têm mais férias do que anteriormente! Mas mais uma vez, o Governo venceu um poderoso lobi.
Salva-se o Pacto da Justiça, pedido pelo Presidente, aceite por Marques Mendes e com efeitos a partir de 2009!

Ambiente
Sócrates gritou contra a Co-Incineração. Os ambientalistas odeiam esta técnica para despachar os resíduos mas odeiam mais a proposta que Sócrates continua a defender com unhas e dentes: a Incineração, uma técnica que já ninguém usa em lado nenhum.
Até para entregar licenças para a instalação de energia eólica é uma desgraça mas a melhor política ambiental é relativa à Refinaria de Sines.
Depois de assinar um pré-acordo com Patrick Monteiro de Barros para a construção da maior refinaria da Europa, Sócrates veio mais tarde dizer que não. O protocolo de entendimento estabelecido entre o Governo e o empresário Patrick Monteiro de Barros definia como “gratuitas e sem limite as emissões de gases com efeito de estufa permitidas à refinaria a instalar em Sines”. Cinco meses depois alguém descobriu que isso iria custar muito dinheiro. E o projecto morreu. Brilhantemente, e em vez dele, vai nascer um outro, o da Galp. Mas aqui coloca-se a questão: se o governo não paga as emissões de CO2 da refinaria do Patrick quem é que vai pagar as da Galp, se são as mesmas? A resposta é muito simples. No projecto do Monteiro de Barros, tudo o que fosse refinado era para exportação logo não se pode incidir os preços no barril para evitar custos acrescidos. No caso da Galp a produção é para consumo interno, ou seja para tu e eu gastarmos no pópó. Significa que esses custos de emissões poluentes, que Sócrates não quer pagar, vão ser imputados aos consumidores através do preço.

Economia
O consumo interno não cresce, não há poupança, a economia cresce devido a exportações, algo que o Governo não tem nada a ver, o desemprego não desce a sério. Continuamos há 18 meses nos 7% que o Governo anterior deixou. E só para provar que o homem é mesmo de esquerda, até temos aí duas OPAs de grandes grupos económicos.

Estradas
Já não bastava o Cravinho ter inventado as Scuts (com custos de 500 milhões de euros anuais que saem do Orçamento de Estado e que davam para construir 100 km de auto-estrada todos os anos durante 25 anos!!!!), Sócrates esqueceu-se da CREL. Sim, a mesma auto-estrada que andou a dizer que devia ser à borla quando Durão Barroso decidiu impor portagens. Não é que esta malta não lê o seu próprio programa eleitoral?


Aceito boas ideias do Governo porque eu, tirando as que aqui referi, não me lembro realmente de mais nenhuma. E é por tudo isto que eu estou desiludido. Acho que nos esquecemos de que este Governo é de Maioria Absoluta. Exigo mais de um Governo que pode fazer o que lhe apetece, sem pudores e meter este país a andar para a frente mais depressa e sem obstáculos.

2 comentários:

Carla Ferreira de Castro disse...

Só falta a educação. Claro que esta tem de ser subdividida pelos dois ministérios: o da educação, com uma ministra que, depois de crucificar os professores, sacou um coelho da cartola, fez amigos entre os docentes e afastou estrategicamente os sindicatos; e o do Ensino superior (para esse precisava de um blog inteiro) com Bolonha, a divisão público privado, o motivo por que as privadas continuam a florescer com cursos atractivos e as universidades públicas estagnaram pois, à semelhança dos cursos que oferecem, têm uma mão-de-obra maioritariamente obsoleta...
Neste caso as grandes mudanças foram servidas a Sócrates numa bandeja e impera a lei dos números de entrada. Até do "agarrado", que tem mais de 23 anos e só fez o nono ano, mas agora quer seguir um curso de Engenharia Mecanotrónica, tem um lugar à sua espera.
Pensando melhor Kinder é melhor não falarmos destas coisas, não vá o counter do blog começar a retroceder e depois lá se vai o merchandising. Ainda por cima porque, desta vez, estamos de acordo. (Embora eu não tenha votado no Zézinho , apesar deser giro, ficar bem num hemiciclo e no LCD lá de casa e vestir Armani)

Sérgio Mak disse...

Por mais estranho que possa parecer, e apesar de estar de acordo com algumas considerações feitas aqui pelo kinder, que com certeza apanhou balanço na 6a para arranjar profundidade para tanta dissertação política, creio que a solução é muito simples...

Falta um gajo com bigode no governo...